18 março, 2009

Um país engarrafado

Dica para aula de GEOGRAFIA
Mostre as opções de transporte que o Brasil fez na história e o reflexo delas na atual capacidade do país em fazer com que produtos e pessoas circulem. Aula para ninguém ficar parado.

Ajude a turma a entender os prejuízos da opção pelo transporte rodoviário no Brasil

O esforço despendido pelo governo federal para fazer com que os estudantes brasileiros recebam em todo o país os livros didáticos a tempo de começar o ano letivo. A gigantesca operação ganha ares de façanha – digna de receber o “Oscar internacional da logística” devido à precária infraestrutura de transportes do Brasil. O texto oferece uma ótima oportunidade de estudar a questão do deslocamento de pessoas e produtos numa nação de tamanho continental e, de quebra, vai ajudar os jovens a dar mais valor ao material disponibilizado pelo Ministério da Educação.
Atividades

1ª aula - Recorde os tipos de transporte: rodoviário, ferroviário, aéreo, hidroviário e marítimo. Divida a turma em grupos e indique uma modalidade para cada: um fica com ferroviário, outro com rodoviário e assim por diante. Estipule um tempo para que cada equipe prepare uma lista que indique vantagens e desvantagens do transporte que receberam. Para tanto, devem ser analisadas questões como a quantidade de produtos ou pessoas transportada, a distância percorrida, o tempo dispendido, a segurança da operação (risco de extravio e/ou danos a mercadorias, roubo, cumprimento de horários etc.), custo e características geográficas do país. Quanto a esse último item, é bom se valer de um mapa do Brasil para lembrar a moçada que o país tem uma dimensão enorme e muita variedade de clima e relevo. Ao avaliar a viabilidade de investir no transporte aéreo na fria serra gaúcha, por exemplo, é preciso ter em conta o número de horas, eventualmente dias, que a neblina impedirá operações na região.
A partir do levantamento dos grupos, rememore o desenvolvimento do sistema de transportes brasileiro. A colonização portuguesa se deu, basicamente, graças aos transportes marítimo e fluvial. As naus que percorreram a costa e os principais rios do território praticamente monopolizaram o deslocamento de pessoas e mercadorias nos três primeiros séculos de nossa história. Foi só com a necessidade de expansão da colonização do Brasil e a urgência em integrar a base econômica do país, após a Independência, que surgiram as primeiras ideias ­não colocadas em prática - de um sistema viário (o Plano Rebelo, de 1838, por exemplo, propunha a construção de três estradas reais que, saindo da capital do Império, o Rio de Janeiro, atingissem o Sudeste, o Noroeste e o Norte do país). As primeiras ferrovias surgiram na segunda metade do século XIX e tiveram forte presença, fazendo com que as estradas e a navegação marítima e fluvial fossem passando, paulatinamente, para segundo plano. A via aérea só surgiu na terceira década do século XX – com a instalação da primeira empresa brasileira de transporte aéreo, a Rondor - e o Primeiro Plano Rodoviário veio dez anos depois, em 1937.

Associe o desenvolvimento dos transportes com a questão econômica. O primeiro produto massivamente cultivado do país, o açúcar, tinha na navegação o seu condicionante de expansão, pois levava para o exterior a produção e trazia de lá mercadorias e a mão-de-obra indispensável, o escravo. A navegação costeira interligava os mais importantes pontos de povoamento, todos ainda na faixa litorânea. A descoberta do ouro em Minas Gerais, no século XVIII, foi decisiva para que o cenário mudasse. Foi construída uma estrada ligando o Rio de Janeiro a Vila Rica (atual Ouro Preto) e o transporte fluvial ganhou forte impulso como modo de acessar o interior. Os trens viraram uma realidade quando a alta produtividade e a lucratividade das novas lavouras (principalmente ligadas ao café) exigiram a ocupação de terras mais distantes. A aviação comercial nunca se firmou como uma opção relevante, alternando momentos de mais prestígio com outros de fracasso evidente. Já o surto de investimentos em rodovias veio a partir dos anos 1950, com a transferência da capital federal para Brasília e a instalação da indústria automobilística no país.
Depois que os grupos tiverem montado uma lista preliminar, distribua o quadro “Crescimento anual de infraestrutura” (abaixo) e mostre a comparação entre o investimento em estradas de ferro e de asfalto na segunda metade do século passado. Mostre que o gasto com as rodovias caiu drasticamente a partir dos anos 1980, quando o Brasil entrou em crise econômica.
Acrescente um dado sobre o preço do frete para reflexão da moçada. Aproximadamente, o envio de um produto por hidrovia custa 40 reais a tonelada por 1.000 quilômetros. Por ferrovia, sai por 65 reais a tonelada por 1.000 quilômetros. E por rodovia, salta para 100 reais a tonelada por 1.000 quilômetros. O frete aéreo é calculado a partir de uma série de variáveis – como peso, embalagem e valor do objeto – mas, como regra, é pelo menos 40% mais caro que o rodoviário.
Peça que os grupos reavaliem as listas de prós e contras que fizeram de seu meio de transporte e tragam novas versões na aula seguinte.

2ª aula - Convoque os grupos para apresentarem suas conclusões e anote o resultado no quadro. De uma forma geral, eles devem chegar ao seguinte resultado:

  • Transporte ferroviário – permite o deslocamento de grande quantidade de carga por viagem, percorre longas distâncias, é flexível quanto às mercadorias, tem custo menor em relação ao rodoviário para grandes volumes de produtos, a velocidade é razoável, não há prejuízo em decorrência do clima ou de congestionamento de tráfego. Por outro lado, a frequência de saída é pequena (não é possível acumular trens numa ferrovia), não permite desvio de rota e nem entrega a domicílio, apresenta risco de saques (pois não desenvolve altas velocidades e nem pode desviar de obstáculos) é ineficiente para curtas distâncias e para pequenas quantidades.

  • Transporte aéreo – é o mais rápido de todos, mas extremamente sucetível a condições climáticas. O custo é elevado, há restrição a tipos de mercadoria e à quantidade.
    Transporte marítimo – permite o deslocamento de grandes quantidades de carga por viagem, percorre longas distâncias, é flexível quanto às mercadorias e transporta cargas perigosas. Entretanto, não se presta para cargas perecíveis, a carga e a descarga são lentas, o tempo de trânsito é longo e a frequência baixa.

  • Transporte fluvial - permite o deslocamento de grandes quantidades de carga por viagem, percorre longas distâncias, é flexível quanto às mercadorias e transporta cargas perigosas. Entretanto, é suscetível a questões climáticas (períodos de seca ou cheia podem inviabilizá-lo), não permite desvio de rota, não se presta para produtos perecíveis, a carga e a descarga são lentas, o tempo de trânsito é longo e a frequência baixa.

  • Transporte rodoviário – atua em qualquer região geográfica, tem flexibilidade de rota e de pontos de entrega, carga e descarga ágil, transporte de pequenas e médias quantidades e alta frequência. Por outro lado, os custos são elevados, principalmente para longas distâncias, o volume transportado não é grande, é sensível a condições climáticas, oferece grande risco de perda em virtude de acidentes e roubos e tem a entrega prejudicada pelo tráfego.

Promova um debate sobre as possibilidades de uso dos diferentes meios e as necessidades do Brasil, com um território gigantesco e uma produção cada vez maior – especialmente agrícola – em regiões distantes do litoral. Cite que estados como São Paulo e Rio Grande do Sul estão investindo em hidrovias e que o governo federal anunciou que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) vai privilegiar os sistemas ferroviário e marítimo.
Ofereça a tabela “Países em movimento” (abaixo) para animar a discussão. Por fim, encomende um texto em que os jovens se posicionem sobre a situação da infraestrutura de transportes do país e proponham alternativas para acabar com o intenso trânsito de caminhões nas estradas brasileiras, que aceleram a degradação dos pavimentos e contribuem significativamente para a formação de congestionamentos. Veja como é feito o transporte nos países de grande dimensão: